CRISPR

Este artigo faz parte de uma série sobre CRISPR







O sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas, consiste em pequenas porções do DNA bacteriano compostas por repetições de nucleotídeos. Cada uma dessas repetições encontra-se adjacente a um “protoespaçador” (“espaçador de DNA”), que corresponde a uma região não-codificante inserida no DNA bacteriano após o contato com genomas invasores provenientes de bacteriófagos ou plasmídeos. A transcrição do locus CRISPR resulta em pequenos fragmentos de RNA com capacidade de desempenhar o reconhecimento de um DNA exógeno específico e atuar como um guia de modo a orientar a nuclease Cas, que irá promover a clivagem e consequente eliminação do DNA invasor caso este entre novamente em contato com a bactéria, atuando como importante mecanismo de defesa contra DNAs invasores [1][2].

O CRISPR é frequentemente usado como um termo geral para se referir à edição genômica, mas é o acoplamento do CRISPR e do sistema Cas9 que permite a deleção seletiva do DNA[3]. Diversos são os mecanismos pelos quais a molécula de RNA guia pode ser sintetizada, entretanto, o sistema tipo II no qual baseiam-se os sistemas atualmente disponíveis para realização da edição gênica, requer a presença de um RNA transativador (tracRNA), e uma molécula pequena de RNA complementar à sequência repetida capaz de associar-se ao transcrito inicial do locus CRISPR, denominada CRISPR RNA (crRNA-sequências que consistem em um protoespaçador ligado a uma sequência repetida com estrutura de grampo). Esta associação origina o complexo tracRNA-crRNA, uma molécula de RNA dupla fita que após ser processada pela RNase III é convertida em uma molécula híbrida madura com função importante no que diz respeito à associação e direcionamento de uma nuclease para eliminação do DNA invasor. Nesse sistema especificamente, a nuclease envolvida na clivagem refere-se à Proteína Associada a CRISPR 9 (Cas9) [1][2].

A alta taxa de insucesso, custo elevado e excesso de tempo necessário para realização das metodologias disponíveis para edição gênica, tais como Recombinação Homóloga (comumente empregada na manipulação genica de células-tronco), Nucleases Dedos de Zinco (ZFN, do inglês Zinc Fingers Nucleases) e Nucleases Efetoras semelhantes à Ativadores de Transcrição (TALENs, do inglês Transcription Activator–like Effector Nucleases), estas duas últimas requerem o reconhecimento em ambas as fitas de DNA para que a clivagem promovida por nucleases sintetizadas especificamente para tais metodologias seja bem sucedida, o que nos permite considerar tais métodos mais trabalhosos quando comparados ao sistema CRISPR [4].

A junção de todos estes fatores fez com que a recente descoberta de um sistema imune bacteriano contra fagos e plasmídeos invasores ganhasse destaque no que diz respeito a técnicas de edição gênica e obtenção de organismos geneticamente modificados (OGMs) [2][5][6].

Atualmente encontra-se disponível um gRNA (RNA guia) que consiste na construção de uma molécula de RNA desenvolvida biotecnologicamente, com a capacidade de mimetizar o que ocorre naturalmente em bactérias, e desta forma, promover o direcionamento da nuclease Cas9 para uma sequência alvo específica para que esta promova a clivagem e a sequência de interesse tornando esta disponível para atuação da maquinaria de reparo da célula e assim, promover edição da porção de interesse presente no genoma alvo. Tais fundamentos nos permitem considerar o sistema CRISPR (CRISPR/Cas) uma técnica rápida, com relativa facilidade de manipulação e baixo custo quando comparada a técnicas anteriores [1][6]. No entanto, este sistema não é restrito a bactérias, o gigantesco Mimivírus[7] se defende de invasores utilizando um semelhante sistema CRISPR implementado por bactérias e outros microorganismos. O sistema de defesa do Mimivírus pode levar a novas ferramentas de edição de genoma[8].

  1. a b c Wiedenheft, Blake; Samuel H. (1 de janeiro de 2012). «RNA-guided genetic silencing systems in bacteria and archaea». Nature. 482 (7385). doi:10.1038/nature10886 
  2. a b c Sander, Jeffry D; J Keith (1 de janeiro de 2014). «CRISPR-Cas systems for editing, regulating and targeting genomes». Nature Biotechnology. 32 (4). PMID 24584096. doi:10.1038/nbt.2842 
  3. Lead CRISPR Scientist Talks Research Origins, Ethics por Emma Dyer (2018)
  4. Gasiunas, Giedrius; Virginijus (11 de janeiro de 2013). «RNA-dependent DNA endonuclease Cas9 of the CRISPR system: Holy Grail of genome editing?». Trends in Microbiology (em inglês). 21 (11): 562-567. ISSN 0966-842X. PMID 24095303. doi:10.1016/j.tim.2013.09.001 
  5. Ran, F Ann; Patrick D (1 de janeiro de 2013). «Genome engineering using the CRISPR-Cas9 system». Nature Protocols. 8 (11). PMID 24157548. doi:10.1038/nprot.2013.143 
  6. a b Barrangou, Rodolphe; Christophe (23 de março de 2007). «CRISPR Provides Acquired Resistance Against Viruses in Prokaryotes». Science (em inglês). 315 (5819): 1709-1712. ISSN 0036-8075. PMID 17379808. doi:10.1126/science.1138140 
  7. MIMIVIRE is a defence system in mimivirus that confers resistance to virophage por Anthony Levasseur, Meriem Bekliz, Eric Chabrière, Pierre Pontarotti, Bernard La Scola & Didier Raoult, publicado em "Nature" (2016) doi:10.1038/nature17146
  8. CRISPR-like ‘immune’ system discovered in giant virus - Mimivirus defence system might lead to new genome-editing tools por Ewen Callaway "Nature" (2016)

From Wikipedia, the free encyclopedia · View on Wikipedia

Developed by Nelliwinne