Duelo com mocas

Duelo com mocas[1] (também traduzido como Duelo às bordoadas) ou A rixa (Duelo a garrotazos o La Riña, no original em castelhano)[2] é uma das Pinturas Negras que Francisco de Goya realizou para decorar os muros da casa —a chamada "Quinta del Sordo"— que adquiriu em 1819. A obra localizava-se no muro da esquerda assestada à porta do piso superior da casa, partilhando a parede com "As Parcas", com uma janela de entremeio.[3]

Duelo com Mocas, Francisco Goya

Nele figuram dois homens que combatem de mocas em punho, sem que haja espectadores ao pé, ambos enterrados na areia pelos joelhos. Não se sabe se o vencedor será sequer capaz de se libertar das areias, o que insinua uma ideia de qualquer vitória será pirríca. Sob pano de fundo, uma paisagem erma, com cambiantes a contraluz de uma alvorada distante. O que reforça a ideia de luta vã e de vitória pirríca, ao posicionar os combatentes numa situação de que poderão não conseguir sair e, mesmo se o conseguirem, onde não têm sítio nenhum para onde ir, no meio da charneca desolada.[1]

O quadro, em conjunção com as demais Pinturas negras, foi trasladado do reboco da parede para a tela, a partir de 1874, por Salvador Martínez Cubells, encarregado pelo barão de Erlanger, um banqueiro francês, que fazia tenção de vender as pinturas na Exposição Universal de Paris de 1878. Malogrado, visto que as obras não conseguiram atrair compradores. De tal sorte que ele-mesmo acabou por doá-las, em 1881, ao Museu do Prado, onde ainda hoje estão em exibição.[4]

A interpretação tradicional deste quadro foi a de que representava dois camponeses numa luta à bastonada num ermo desolado, enterrados na areia até aos joelhos. Independentemente de estarem enterrados, este tipo de duelos ocorriam na época, tal como os dos cavaleiros, só que, ao contrário daqueles, as armas neste eram mocas ou bastões e desproviam-se de regras e protocolo, como sendo os padrinhos, os cinquenta passos, a escolha das armas, etc.[1][2]

O investigador britânico Nigel Glendinning já assinalara as diferenças entre as pinturas actuais e o estado que apresentavam as Pinturas negras antes de serem transladadas e restauradas, documentando a situação, com recurso a uma série de fotografias da autoria de Juan Laurent. [5]Em finais de 2010, outro estudo destas imagens de Laurent, agora realizado por Carlos Foradada, pintor e professor de História da Arte, reiterou que Goya pintou os duelistas sobre um piso relvado e que terá sido a deficiente técnica de arranque das pinturas dos muros da "Quinta del Sordo", que resultou em grandes perdas de superfície pictórica e na subsequente dissimulação das pernas abaixo dos joelhos, o que fomentou a interpretação de que Goya os enterrara[2].

Todas as fotografias de Laurent, das Pinturas negras, na Quinta del Sordo, foram publicadas en 1992, no Boletim do Museu do Prado, num artigo escrito por Carmen Torrecillas.[6]

  1. a b c Hagen, Rainer (2004). Goya. Colónia, Alemanha: Taschen. p. 74. 96 páginas 
  2. a b c «La cara oculta de las 'pinturas negras'», Público. es, 29 de diciembre de 2010.
  3. Vistas virtuais da situação original. [1], [2]
  4. Valeriano Bozal, Francisco Goya, vida y obra, (2 vols.) Madrid, Tf. Editores, 2005, vol. 2, pág. 247,
  5. GLENDINNING, Nigel (1993). 'Francisco de Goya. Madrid: Cuadernos de Historia. p. 30 
  6. María del Carmen Torrecillas Fernández, «Las pinturas de la Quinta del Sordo fotografiadas por J. Laurent», Boletín del Museo del Prado, tomo XIII, número 31, 1992, pág. 57 y ss.

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