Guerra civil do Sri Lanka | |||
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Em verde, as áreas do Sri Lanka conhecidas como Tamil Eelam, onde boa parte dos combates aconteceram. | |||
Data | 23 de julho de 1983 — 18 de maio de 2009[1] (25 anos, 9 meses, 3 semanas e 3 dias) | ||
Local | Sri Lanka | ||
Desfecho | Vitória do governo do Sri Lanka
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Mudanças territoriais | Menos de 28 km² ocupados pela LTTE[2] | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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800 000 civis deslocados de suas casas (2001)[12] |
A Guerra Civil do Sri Lanka (em cingalês: ශ්රී ලංකාවේ ත්රස්තවාදය; em tâmil: ஈழப் போர்) foi um conflito armado interno travado na ilha de Sri Lanka. Tendo começado em 23 de julho de 1983, foi um período de insurgência intermitente, encabeçada pelo grupo conhecido como Tigres de Liberação do Tamil (ou LTTE, em sua sigla em inglês), contra o governo central cingalês. Os rebeldes tâmeis lutavam para formar um estado independente chamado Tamil Eelam nas partes norte e leste do Sri Lanka. A guerra durou quase vinte e seis anos, terminando numa violenta ofensiva do exército cingalês, lançada entre 2008 e 2009.[13][14]
Nos quase vinte e seis anos de conflito, os combates causaram enorme sofrimento na população civil, arrasando cidades e vilarejos, destruindo o meio ambiente e gerando enormes perdas na economia do Sri Lanka, com estimativas do total de mortos ficando entre 80 000 e 100 000 pessoas.[11] Em 2013, um painel da ONU estimou o total de mortos em torno de 40 mil pessoas, mas afirmou que o total de fatalidades pode ter sim passado de cem mil.[15] No começo da guerra, o governo cingalês tentou reconquistar os territórios controlados pelos Tigres do Tamil com táticas militares convencionais. Os rebeldes travaram lutas não-convencionais contra as forças do governo, engajando em ações de guerrilha de forma eficiente, utilizando táticas violentas, não fazendo distinção entre combatentes e civis. Como resultado, dezenas de países, como os Estados Unidos, Índia, Canadá e as nações da União Europeia, declararam o LTTE como uma organização terrorista. Para combater os separatistas, o exército do Sri Lanka adotou medidas cada vez mais duras em áreas controladas pelos rebeldes Tamils, brutalizando a população civil, maltratando prisioneiros, assassinando pessoas a sangue frio e ignorando direitos básicos da população, como habeas corpus, além de prisões arbitrárias, torturas, estupros e outras violações de direitos humanos.[16] Como retaliação, os separatistas Tamils recorreram a táticas igualmente brutais, eliminando simpatizantes do governo central, matando prisioneiros e, posteriormente, recorrendo a atentados suicidas através de organizações como os Tigres Negros (கரும்புலிகள், em tamil) que, entre 1987 e 2009, realizou quase 200 atentados em vários locais, tanto no Sri Lanka como na Índia. As táticas utilizadas pelos Tigres Negros são consideradas as precursoras dos atuais ataques suicidas que são vistos no mundo, como a utilização de militantes à paisana munidos com cinturões explosivos.[17][18]
Após mais de duas décadas de guerra e quatro fracassadas conversações de paz, incluindo uma má concebida intervenção armada por parte do exército da Índia (feita pela chamada Força de Manutenção de Paz Indiana), de julho de 1987 a março de 1990, e após duras negociações, um acordo de cessar-fogo foi firmado em dezembro de 2001 e, no ano seguinte, um outro acordo para pausar as hostilidades foi assinado, mediado por nações estrangeiras.[19] Contudo, combates, ainda que limitados, voltaram a acontecer a partir de 2005 e as hostilidades retomaram com toda a força quando o governo central cingalês lançou, em julho de 2006, uma enorme ofensiva militar contra os separatistas dos Tigres do Tamil, expulsando-os da Província Oriental da ilha. Os rebeldes do LTTE prometeram então retomar a luta armada "em nome da liberdade" e a violência se intensificou, com ambos os lados sendo acusados de incontáveis crimes de guerra, especialmente as forças do governo. Imagens de execuções sumárias, ataques a vilarejos indefesos, estupros e torturas, físicas e psicológicas, foram reportados em relatórios da comunidade internacional, mas nenhuma represália foi feita pelas potências ocidentais contra o governo cingalês enquanto eles aumentavam a pressão sobre os rebeldes.[20][21]
Em 2007, o governo cingalês mudou seu foco para o norte do país, formalmente anunciando que não respeitaria os acordos de cessar-fogo de 2002 e lançando uma pesada ofensiva militar contra os últimos redutos dos Tigres do Tamil. O governo alegou que os separatistas haviam violado o cessar-fogo primeiro, repetidas vezes.[22] O governo começou cercando os territórios rebeldes, afundando navios de contrabando de armas e cortando suas rotas de suprimento (especialmente pela via marítima).[23] Novamente, a comunidade internacional ignorou acusações de crimes de guerra cometidos pelo exército cingalês e ajudou o governo do Sri Lanka a destruir a infraestrutura econômica dos Tigres do Tamil ao cortar seus meios ilegais de financiamento. O governo cingalês, por sua vez, utilizando armamento superior de suas forças armadas, começou a tomar enormes porções de territórios dos Tigres do Tamil, incluindo a cidade de Kilinochchi, a de facto capital separatista, sua principal base militar em Mullaitivu e toda a importante rodovia A9,[24] forçando os Tigres do Tamil a recuar e, enfim, conceder a derrota, em maio de 2009.[25] Após a vitória do governo sobre os Tigres do Tamil nos campos de batalha, um pequeno grupo pró-LTTE, chamado Aliança Nacional Tâmil, abandonou suas exigências por um estado separado em favor de uma solução federal e mais autonomia para a região tâmil.[26][27] Em maio de 2010, Mahinda Rajapaksa, o então presidente do Sri Lanka, acusado por muitos de ser um dos principais perpetradores de vários crimes contra a humanidade durante a guerra através dos seus exércitos, criou a Comissão de Lições Aprendidas e Reconciliação (ou LLRC, na sigla em inglês) para pesquisar a respeito do período do conflito entre 2002 e 2009 e buscar firmar, de forma mais duradoura, o cessar-fogo após o término das hostilidades.[28]