Letramento

Três meninas do Laos sentadas fora de sua escola, cada uma absorvida pela leitura de um livro que receberam em uma festa de livros numa escola rural.

Compreende-se por letramento (português brasileiro) ou literacia (português europeu) o resultado da ação de ler e escrever, entendendo a linguagem como prática social. Desse modo, os sujeitos apropriam-se da escrita,[1] criticamente, com a finalidade de interagirem e agirem nos diversos contextos sociais. A prática, nesse contexto, é um fenômeno social que não se limita somente ao espaço e às relações escolares, mas abrange uma nova visão sobre as modalidades de leitura e escrita. No entanto, a partir do momento em que as práticas de linguagem surgiram em espaços digitais, se considerou outras práticas de linguagem.

Nesse contexto, surge um novo sentido para o adjetivo letrado, que significava apenas aquele que é versado em letras ou literatura; literato, letrado. Entretanto, a partir do desenvolvimento dos estudos de letramento, letrado passa a ser o sujeito que domina as práticas de leitura e escrita. Freire defendeu a inseparabilidade entre a leitura da palavra e a leitura do mundo, contribuindo assim para uma abordagem social e política da alfabetização e do letramento numa perspectiva critica. Não sendo aquele que só sabe ler e escrever (atributo daquele que é alfabetizado), mas quem também faz uso competente e frequente da leitura e da escrita, uma vez que o indivíduo letrado apropria-se da escrita.[2] Fala-se, desse modo, no letramento como ampliação do sentido de alfabetização e como prática social que favorece, por parte dos sujeitos, a interpretação e produção social de discursos, bem como a compreensão de seus engajamentos em eventos e práticas de letramento. Assim, pode-se dizer que há um contínuo entre alfabetização e letramento, de modo que a proposta é que se alfabetize letrando.[3][4]

Os estudos do letramento possuem dois enfoques importantes de compreensão, os quais visam a entender as práticas sociais de linguagem, na perspectiva autônoma e na ideológica. O letramento autônomo está atrelado, em especial, a questões técnicas, isto é, não leva em consideração os aspectos contextuais das práticas, tendendo, assim, à funcionalidade e aos aspectos formais da língua. Assim, nesse modelo, o foco se dá às capacidades individuais no âmbito da técnica, quando da produção e compressão de texto. Por outro lado, o letramento ideológico, por sua vez e diferentemente do viés autônomo, compreende o contexto como um elemento importante, uma vez que se entende que as práticas de linguagem estão ancoradas em estruturas culturais e de poder, pois estas são sócio e historicamente situadas.[5] Portanto, compreender o sujeito letrado por meio da última perspectiva, é entender que ele faz uso social da leitura e escrita, e não apenas codifica e decodifica, mas vai além, compreende os variados contextos de produção de sentido, fortifica suas identidades e é agente ativo na promoção de uma mudança social. Nesse contexto, é necessário, ainda, fazer diferenças e aproximações entre o que se chama de eventos e práticas de letramento.[6]

  1. SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.
  2. Macedo, Maria do Socorro Alencar Nunes; Almeida, Ana Caroline de; Dezotti, Magda (21 de outubro de 2020). «Alfabetização crítica: contribuições de Paulo Freire e dos novos estudos do letramento». Linhas Críticas: e29785–e29785. ISSN 1981-0431. doi:10.26512/lc.v26.2020.29785. Consultado em 17 de setembro de 2022 
  3. SOARES, Magda. B. Letramento: um tema em três gêneros. 2ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
  4. ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
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  6. KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

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