A pintura no Rio Grande do Sul teve uma evolução tardia em relação ao centro do país. Até o início do século XIX o Rio Grande do Sul era um território ainda em fase de povoamento, com fronteiras mal-definidas e cultura incipiente. O único episódio cultural significativo em sua história anterior ocorreu entre os séculos XVII e XVIII no ambiente das Missões jesuíticas no noroeste do estado, que na época ainda era um território da Coroa espanhola. Passando por diversas turbulências políticas e militares ao longo dos séculos XVIII-XIX, os rio-grandenses mal tiveram tempo, recursos e mesmo bases educativas suficientes para gerar muita cultura neste período.
Neste panorama despojado, sem uma tradição anterior, as primeiras evidências de arte pictórica no estado apareceram como decoração de templos religiosos e de alguns edifícios públicos ou palacetes das elites. A pintura, como arte independente, só teria condições de iniciar um florescimento, em linhas acadêmicas, a partir do final do século, iniciado em Porto Alegre, a capital, e dois outros centros regionais importantes: Pelotas e Rio Grande, portas de entrada do estado por via marítima. Então surgem os primeiros nomes de relevo da pintura local.
Nos anos 1920 o modernismo iniciou sua penetração, entrando em choque contra a tradição acadêmica e setores culturais conservadores, e abrindo uma polêmica pública que iria se arrastar por décadas até a vitória dos modernos nos anos 1950. Nesta mesma época, principalmente através da atuação do Instituto de Belas Artes, a pintura como gênero artístico autônomo já estava firmemente estabelecida e prestigiada, formava-se um mercado, multiplicavam-se os pesquisadores e críticos, cada vez mais se incorporavam atualizações de fora e se definia pela primeira vez um caráter original para a produção sulina. Mas mal o modernismo havia conseguido assegurar seu predomínio, entre os anos 1960 e 1970 a pintura gaúcha entrou em crise, como em todo o mundo. Novas estéticas entravam em ação, como a arte pop e a nova figuração, e logo as vanguardas conceituais questionavam a primazia da pintura e o próprio conceito de obra de arte, preocupando-se mais com a ideia e o processo criativo do que com a construção material da obra, passando a predominar o hibridismo de várias técnicas e materiais usados em combinações incomuns, dando-lhes novos significados. Neste momento, foi tamanha a queda da importância relativa da pintura na hierarquia de prestígio das artes que alguns chegaram a dizer que a pintura estava morta.
Mas acompanhando outra tendência internacional, nos anos 1980, parecendo esgotadas as possibilidades do conceitualismo, a pintura voltou no estado com grande força e exuberância, revisitando o passado criticamente ao mesmo tempo em que se globalizava e consagrava a pluralidade como a linguagem típica dos tempos atuais. Em fins do século XX a pintura gaúcha se tornara já uma referência nacional, colocando-se em sintonia com as tendências nacionais e internacionais e respondendo de formas criativas. Paralelamente, na curta história da pintura no estado sempre houve artistas importantes que não ficaram insensíveis aos apelos do regionalismo e abordaram o imaginário formado em torno da figura quase mítica do gaúcho e de cenários e personagens históricos ou lendários.
Considerando seus inícios pouco auspiciosos, em relativamente pouco tempo se formou no Rio Grande do Sul um vasto e ricamente diversificado acervo de pintura, um público para apreciá-lo, e um grande grupo de instituições capacitadas para estudá-lo, preservá-lo e exibi-lo. Porto Alegre continua de longe como o centro mais importante, mas em quase todo o interior a pintura já encontra espaço, mesmo que tímida e amadoristicamente. A técnica em seus elementos básicos faz parte do currículo escolar e se tornou um domínio público. Já é grande a bibliografia produzida sobre determinados aspectos da pintura riograndense, mas estudos gerais ainda não existem, sobre muitos particulares quase nada já foi dito, e muita pesquisa ainda precisa ser feita para que ela seja conhecida com a profundidade e amplitude que sua riqueza estética e importância social merecem.