A Primeira Guerra do Congo (1996-1997) foi uma guerra travada no então Zaire (atual Congo), que tinha o objetivo de derrubar o ditador nacionalista Mobutu Sese Seko. As forças de oposição a Mobutu eram lideradas pelo líder guerrilheiro Laurent-Désiré Kabila, com o apoio dos países vizinhos (especialmente Ruanda e Uganda). Tomando Quinxassa, Kabila declarou-se presidente e alterou o nome do país para República Democrática do Congo.
Após anos de conflitos internos, ditadura e declínio econômico, o Zaire era um Estado moribundo em 1996. As partes orientais do país foram desestabilizadas devido ao genocídio em Ruanda que atravessou suas fronteiras, bem como conflitos regionais duradouros e ressentimentos deixados sem solução desde a Crise do Congo. Em muitas áreas, a autoridade do Estado havia entrado em colapso, com milícias, senhores da guerra e grupos rebeldes travando uma luta interna (alguns simpatizantes do governo, outros abertamente hostis) exercendo poder efetivo.[10][11] A população do Zaire tornou-se inquieta e ressentida com o regime inepto e corrupto, enquanto as Forças Armadas Zairenses estavam em uma condição catastrófica.[12][13] Mobutu, que estava com uma doença terminal, não conseguia mais manter as diferentes facções do governo sob controle, tornando sua lealdade questionável. Além disso, o fim da Guerra Fria fez com que a forte postura anticomunista de Mobutu não fosse mais suficiente para justificar o apoio político e financeiro que recebera de potências estrangeiras - seu regime, portanto, estava essencialmente falido, política e financeiramente.[14][15]
A situação finalmente piorou quando Ruanda invadiu o Zaire em 1996 para derrotar vários grupos rebeldes que haviam encontrado refúgio no país. O governo ruandês decidiu lançar essa ofensiva no leste do Zaire após Mobutu abertamente dar abrigo a vários hútus que haviam perpetrado o genocídio em Ruanda.[16] Essa invasão aumentou rapidamente de intensidade à medida que mais países (incluindo Uganda, Burundi, Angola e Eritreia) se juntaram à invasão, enquanto uma aliança congolesa de rebeldes anti-Mobutu foi montada.[10] Embora o governo zairense tenha tentado oferecer uma resistência efetiva e tenha sido apoiado por milícias aliadas, bem como pelo Sudão, o regime de Mobutu entrou em colapso em questão de meses.[17] Apesar da curta duração da guerra, ela foi marcada por destruição generalizada e extensa violência étnica, com centenas de milhares de mortos nos combates e pogroms que os acompanharam.[18]
Um novo governo foi instalado e o Zaire foi renomeado República Democrática do Congo, mas o fim do regime de Mobutu trouxe poucas mudanças políticas, e Kabila se sentiu desconfortável na posição de procurador de seus antigos benfeitores. Para evitar um golpe, Kabila expulsou todas as unidades militares ruandesas, ugandenses e burundesas do Congo, e moveu-se para construir uma coalizão incluindo forças da Namíbia, Angola, Zimbábue e Zâmbia, logo abrangendo uma série de nações africanas como Líbia e África do Sul, embora seu apoio variasse.[19] A coalizão tripartite respondeu com uma segunda invasão do leste, em grande parte por meio de grupos de procuração. Essas ações constituíram o catalisador da Segunda Guerra do Congo no ano seguinte, embora alguns especialistas prefiram ver os dois conflitos como uma guerra contínua cujos efeitos posteriores continuam até a atualidade.[20][21]