O Underground Railroad foi uma rede secreta de rotas e esconderijos estabelecida nos Estados Unidos em meados do século XIX e era utilizada por afro-americanos escravizados para escapar em direção aos estados livres (especialmente no norte) ou para o Canadá.[1] O esquema era apoiado por abolicionistas e outras pessoas simpáticas a causa dos escravos fugitivos.[2]
Não literalmente, mas metaforicamente, uma ferrovia ("railroad"), os escravos que arriscavam escapar e aqueles que os ajudavam também eram chamados coletivamente de "Underground Railroad".[3] Várias rotas levavam ao México,[4] onde a escravidão era ilegal, ou para outros países.[5] Uma rota de fuga anterior indo para o sul em direção a Flórida, então posse da Espanha, existia do século XVII até pelo menos 1790 (a Flórida foi anexada pelos Estados Unidos em 1822 e a escravidão foi feita legal lá).[6][7] Contudo, a rede de rotas de fuga que ficou realmente conhecida como Underground Railroad foi formada apenas no final do século XVIII e começo do XIX. Correndo especialmente nos estados de fronteira entre o norte e o sul e cresceu sistematicamente até o começo da guerra civil. Era uma rota perigosa, com patrulhas de fronteira e caçadores de escravos fugitivos espreitando nas rotas principais.[8] Estima-se que do final do século XVIII até 1850, cerca de 100 000 escravos fugiram utilizando a "Railroad".[8]
A América do Norte Britânica (atual Canadá) era um dos destinos mais desejáveis, já que suas vastas fronteiras possibilitavam várias rotas e era longe o suficiente para desencorajar os caçadores de escravos ou para ficar longe do alcance das autoridades dos Estados Unidos, especialmente após a passagem do Fugitive Slave Act ("Lei do Escravo Fugitivo"). A maioria dos ex-escravos, que chegavam no Canadá atravessando os lagos Ontário e Erie via barco, se assentavam na cidade de Ontário. Mais de 30 000 pessoas teriam escapado por esta rota num período de 20 anos, no seu auge,[9] embora números de um censo estime que teriam sido no máximo 6 000 escravos que fugiram.[10] Numerosas histórias de fugitivos estão documentadas no livro The Underground Railroad Records, de 1872, do autor William Still, um abolicionista que era líder do grupo Vigilance Committee da Filadélfia.[11]
A Underground Railroad em tradução livre é "ferrovia subterrânea", mas as rotas de fuga não eram ferrovias e tampouco subterrâneas. De acordo com o abolicionista John Rankin, "era assim chamada porque aqueles que fizeram a passagem por ele desapareciam da vista do público tão realmente como se tivessem entrado no solo. Depois que os escravos fugitivos entravam em um depósito naquela estrada, nenhum vestígio deles era encontrado".[12] Abolicionistas notórios dos Estados Unidos, como Harriet Tubman, Levi Coffin, John Brown e Moses Dickson, ajudaram milhares de escravos a fugir do sul escravagista até a liberdade do norte, em rotas perigosas e constantemente vigiadas.[13] A maioria dos escravos fugiam sozinhos ou em grupos de no máximo três, via barco, carroça ou, como na maioria dos casos, a pé. No caminho, recebiam ajuda de escravos libertos, abolicionistas e brancos simpatizantes, que lhes forneciam abrigo e comida quando dava. Abolicionistas como Charles Turner Torrey, alugavam ou compravam cavalos e carroças para ajudar os fugitivos. O Canadá, um dos principais destinos, era referido pelos escravos como "a Terra prometida" e o Rio Ohio (a demarcação natural que separa o sul e o norte) era chamado de "o Rio Jordão". A maioria dos fugitivos eram homens e crianças eram desencorajadas a irem, já que não costumavam conseguir manter o silêncio no difícil caminho. Não havia mapa das rotas, para evitar que estas fossem descobertas, e a maioria dos caminhos era passado entre os escravos pelo boca a boca. O perigo da recaptura era altíssimo, com aqueles que eram recuperados pelos seus mestres sendo duramente punidos e os líderes das fugas eram comumente executados.[14]